*sinal de frustração*

Post original: 18 de janeiro de 2023 • Escrito por Isabella Gresswell

Tradução por Júlia Livio Amaral • 12 de abril de 2023

O Burren, Co. Clare

Às vezes quando falo com as pessoas sobre onde estou e o que estou fazendo, tenho a sensação de que elas ficam se questionando se me arrependo de ter deixado a medicina. A resposta é não, porém, sinto falta.

Largar a medicina foi definitivamente a melhor decisão para mim, mas sinto muita falta. Curti a maior parte da faculdade. Na verdade, o que mais sinto falta é estudar medicina, aprender e conhecer coisas úteis, e ficar maravilhada com as complexidades do corpo humano - como somos perfeitos e imperfeitos. Sinto falta de resolver problemas! Aquilo era tão divertido e incrivelmente satisfatório! E sinto falta de ter respostas - ou pelo menos, saber que eventualmente terei [algumas] respostas - para perguntas que meus amigos, minha família e o público em geral me fizerem.

Quanto mais tempo se passa desde que larguei a medicina, mais me esqueço, e também não sigo reabastecendo minha fonte de conhecimento. Isso é triste. Também afeta minha confiança em meu conhecimento médico. A única habilidade que não vou esquecer é como pesquisar as coisas! Essa é minha graça salvadora. Espero que eu encontre uma forma de inserir a medicina em algo que eu faça no futuro. Idealmente, algo que venha a requerer de mim o entendimento da fisiopatologia, do diagnóstico e do tratamento de queixas comuns!

Sempre que começo a questionar sobre minha decisão de largar a profissão ou quando realmente sinto falta da medicina e começo a me perguntar se devo tentar novamente, revisito toda a lista de razões pelas quais me fizeram desistir, e geralmente fico rapidamente tranquila. No post de hoje, vou dividir com vocês mais algumas dessas razões- ou dessas pedrinhas. Essas pedrinhas são aquelas que ficam alojadas nas solas dos seus sapatos. Aquelas que você se convence de que são apenas temporárias e que cairão se você simplesmente continuar a andar - mas não, e você eventualmente precisa parar e removê-las. Mas conforme elas vão saindo…Ai, que alívio! Esses motivos para desistir são precisamente AQUELAS pedrinhas.

Deixe-me começar expondo as condições de trabalho no hospital HSE. Simplificando, as necessidades básicas quase não são atendidas.

Tive sorte no Hospital Portiuncula (HUP) por termos recebido armários. No entanto, tivemos que solicitar a divisão de vestiários femininos e masculinos para que tivéssemos um lugar para trocarmos de roupa antes e depois do trabalho. *sinal de frustração*

No Hospital Universitário de Galway (HUG), os armários eram algo raro. A maioria dos médicos recém-formados precisava colocar nossas coisas em espaços livres aleatórios nas enfermarias. Depois aguentávamos uma palestra quase diária sobre saúde e segurança no trabalho. Sim, bolsas e casacos no chão são um risco de tropeçar - mas o espaço entre o arquivo e o cubículo para os arquivos dos pacientes foi ocupado! Se você chegasse no final do dia e encontrasse sua bolsa e seu casaco intactos, ao invés de pisoteados ou sumidos, isso seria uma vitória.

Os assentos nesse hospital eram escassos. No auge da pandemia, as mesas e cadeiras do saguão ao lado da loja e do café foram retiradas para evitar aglomeração de funcionários. O resultado disso foi médicos recém-formados cansados, famintos e exaustos tomando seus chás, cafés e sanduíches no chão do saguão. Às vezes perabulávamos no hospital procurando salas de reuniões escondidas onde pudéssemos encontrar uma mesa de verdade com cadeiras de verdade para que pudéssemos sentar e comer nossas refeições como pessoas. Nem sempre tínhamos esse tempo de busca, então o chão frio do saguão tinha que servir.

A residência médica no HUG ficava em um prédio separado. A residência era boa. Parecia que nunca havia sido limpa e havia uma pilha crescente de móveis quebrados no canto da sala, mas era um espaço quente com assentos. Estando na costa oeste da Irlanda, muitas vezes tínhamos que caminhar sob chuvas fortes e ventos frios para chegar à residência, mas o verdadeiro inconveniente era a distância das enfermarias. Quando seu bipe está disparando constantemente e você precisa encontrar tempo para comer e beber água, você precisa de um lugar perto para recuperar o fôlego e se reidratar, pelo menos por um momento. Esses pequenos santuários existem em todas as alas. Eles têm mesas e cadeiras, chaleiras, geladeira e micro-ondas - mas os médicos não são bem-vindos lá. São as salas dos enfermeiros. Tecnicamente, os médicos são permitidos de usá-los, mas não nos dizem onde estão, não somos convidados a entrar e, às vezes, nos dizem equivocadamente que não somos permitidos a entrar.

Bebedouros e banheiros eram criaturas indescritíveis no HUP. Havia um banheiro público feminino e outro masculino no saguão do edifício principal. Não posso falar pelo banheiro masculino, mas no banheiro feminino havia uma única cabine para todo o prédio principal do hospital. Pode ser que tenha banheiros de funcionários em algum lugar nas enfermarias, talvez até nas salas dos funcionários, mas eu não saberia dizer.

Mas não se assuste! Isso tudo está sendo abordado. O Departamento de Saúde destinou 1 milhão de Euros para “melhorar as condições de trabalho, fornecendo aos médicos lugares para trancarem suas bicicletas, e  um lugar para colocarem suas carteiras, um lugar para colocarem seus casacos, a capacidade de obter comida e água à noite, se você estiver cobrindo o turno da noite (Wilson, 2022). Como se precisássemos ir ao Ministro da Saúde para arranjar uns cabides! De qualquer forma, é apreciado.

Planejei compartilhar mais uma pedrinha neste post, mas acho que é suficiente. Vou deixar para outra vez.

Por favor, sinta-se à vontade para desabafar e compartilhar suas próprias anedotas nos comentários abaixo. Quem sabe podemos rir disso!

Feliz Ano Novo!

Wilson, C. (2022) '80 hours a week' - why doctors are leaving Ireland, RTE.ie. RTÉ. Available at: https://www.rte.ie/news/primetime/2022/1013/1329100-80-hours-a-week-why-doctors-are-leaving-ireland/ (Accessed: January 16, 2023).



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