Documento 1 - Word

Post original: 26 de outubro de 2022 • Escrito por Isabella Gresswell

Tradução por Júlia Livio Amaral • 8 de março de 2023

Praia Grande, Ferragudo, Portugal

Bom dia, pessoal! No momento, estou isolada em meu quarto com uma rigorosa dose de COVID 19. Quem diria que ainda seria algo a se preocupar? Meu cérebro está uma bagunça, mas de qualquer forma, vou tentar editar este post.

Estou tentando manter leveza e positividade hoje. Haverá muito material sobre as dificuldades de se trabalhar como médica recém-formada e a turbulência emocional em torno da decisão de deixar a medicina em publicações futuras. Hoje quero apenas te oferecer um pouco de esperança e inspiração.

Vamos começar…

Terminei meu estágio em julho de 2021 e trabalhei duas semanas como SHO - Senior House Officer (que seria um título para designar o médico substituto ou temporário a partir do segundo ano de prática da medicina até passar na prova de residência) em psiquiatria. Então, pendurei meu uniforme e meu estetoscópio e gastei minhas suadas economias em um carro, aulas de direção e terapia. Nesse ponto, tive que considerar uma carreira como instrutor de direção - é aí que está o dinheiro! (E só precisei de três tentativas para passar no exame de direção…)

De outubro de 2021 até junho de 2022, trabalhei para a Saúde Pública como rastreadora de contatos para COVID 19. Como a demanda diminuiu, larguei meu emprego e viajei com meu namorado Luke.

Mas primeiro: rescindimos nosso contrato de aluguel, arrumamos nossa casa, empacotamos um número grande de caixas, móveis e plantas no galpão dos pais de Luke e nos mudamos para seu quarto de infância, junto com dois cachorros e um gato. É um ajuste apertado, mas o dinheiro que economizamos no aluguel foi uma boa ajuda para financiar nossas viagens.

Nós passamos cinco semanas no Brasil visitando minha família e outras seis viajando a costa de Portugal em uma viagem de prospecção para o nosso futuro endereço.

Agora estamos de volta à Irlanda esperando pacientemente para que nosso agente de realocação encontre uma propriedade para alugar na nossa cidade escolhida em Portugal - esperando que seja metade do preço do aluguel que pagávamos em Galway.

Esse verão foi inacreditável. Nós tivemos tanta sorte de ter a capacidade de fazer tudo o que fizemos. Porém, não foi apenas sorte: Luke é um engenheiro de software e é capaz de trabalhar de qualquer lugar no mundo com seu computador - (Por que eu não segui meu pai na ciência de computação!?!)- e eu no momento estou desempregada ou “entre carreiras”, caso prefira. Nos encontramos nesse momento incrivelmente raro e afortunado de nossas vidas, onde não estamos presos a nenhum trabalho ou local específico.

Como podemos viver em qualquer lugar, passamos seis semanas percorrendo a costa de Portugal explorando cidades, bairros e propriedades para alugar. Foi realmente um privilégio poder passar esse tempo conhecendo cada região e cidade antes de tomar a grande decisão.

Foi um período trabalhoso. Luke trabalhava suas horas regulares em seu notebook. Eu me mantive ocupada na busca da mudança para Portugal e na criação do meu site. Passamos as noites dirigindo e andando em torno dos bairros tentando obter um senso melhor da cultura, da comunidade e da paisagem, e ainda encaixamos o tempo em igrejas, basílicas, catedrais, palácios, praças… foi maravilhoso e exaustivo, mas mais maravilhoso!

O que eu gostaria de pontuar é que ganhei uma grande liberdade desde que deixei a medicina. Eu não preciso procurar por uma acomodação temporária em uma cidade diferente a cada seis meses. Não estou restrita por horários imprevisíveis e irregulares, por plantões no final de semana, por feriados que precisam ser agendados no início de cada nova escala e que precisam estar coordenados com as escalas de outros médicos. Meu tempo não está cheio de auditorias, projetos de melhorias de qualidade, trabalhos de pesquisa, estudo e muitas outras responsabilidades que eu, sem dúvida, assumiria para melhorar meu currículo, me destacar e permanecer relevante.

Eu costumava achar que havia perdido o controle da minha própria vida na medicina. Eu estava fazendo tantas coisas que eram esperadas de mim que eu não tinha tempo para fazer o que gostava. 

O caminho estava claro: 

1. faculdade de medicina -> 2.  internato -> 3. SHO -> 4. cursos preparatórios de residência -> 5. fazer as provas-> 6. médico registrado/ médico especialista registrado (a diferença desses dois títulos é que o segundo está treinando para tentar passar na prova para ser consultor)-> 7. eventualmente se tornar um consultor.  Ou seja, o consultor é o médico mais experiente da equipe.

Eu só precisava seguir o caminho e utilizar meu tempo extra em pesquisa, aprendizado, ensino, experiência de liderança, uma medalha olímpica  e um prêmio Nobel da Paz. Medicina é um viajante - ou uma escada rolante, se as coisas correrem conforme planejado - e é difícil sair - por que você sairia se o caminho está traçado à sua frente?

Saber exatamente onde eu estava indo foi confortante, por muito tempo, mas no final do meu internato, essa trajetória começou a parecer incrivelmente sombria. Isso apenas enfatizou a sensação de perda de controle. Não temos muita autonomia na medicina - pelo menos até alcançar o nível de consultor - e os contratos de consultores lançados em 2021 tentaram limitar isso também.

Hoje sinto que recuperei o controle. Tenho uma recém-descoberta liberdade para escolher meu próximo passo, morar onde eu quiser e fazer o que eu quiser. Não saber o que está por vir é assustador. Uma tela em branco e um pincel limpo são intimidantes - ou se preferir: um caderno novinho em folha e um lápis apontado com uma borracha perfeitamente intocada, ou um documento de Word em branco - é assustador! Mas é emocionante! O que irá acontecer!?

Vou te deixar com a seguinte reflexão:

Pense no que você faria se tivesse a liberdade para escolher.

E independente do que você faça, lembre-se de lavar as mãos e cobrir a boca quando for espirrar!

Cuidem-se,

Isabella



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